“O MUNDO NÃO SUPORTA MAIS O SISTEMA DE HEGEMONIA COLONIAL”, DIZ LORENZO CARRASCO

“O mundo não suporta mais o sistema de hegemonia colonial”, diz Lorenzo Carrasco

Jornalista mexicano e o advogado Gáudio Ribeiro de Paula debateram o cenário internacional na Reunião da Executiva da CSB

No segundo painel realizado durante a Reunião da Diretoria Executiva da CSB, em Brasília, nesta quinta-feira (dia 8), o jornalista mexicano Lorenzo Carrasco Bazúa e o advogado especializado em Direito Comparado Gáudio Ribeiro de Paula fizeram uma ampla avaliação do cenário internacional, abordando principalmente questões econômicas, trabalhistas e sindicais.

_mg_0390A visão do jornalista mexicano é a de que o sistema econômico mundial precisa de uma mudança brusca que possa quebrar o ciclo vicioso que alimenta o rentismo e a especulação financeira.

“Estamos em um processo de retrocessos de direitos trabalhistas e nos valores básicos dos direitos humanos. É o que o Papa chamou de economia do descarte. Temos visto a injustiça e a desigualdade crescendo no sistema mundial”, afirma Carrasco. “Vamos nos acomodar ou atacar essa situação? Está sendo criada uma cultura contra o trabalho, contra a atividade das pessoas, uma cultura de descarte”, afirmou.

No início de sua fala para os diretores da Executiva da CSB, Carrasco recuou no tempo para pontuar o que, segundo ele, são as origens da crise que atinge o atual cenário econômico global. Para o jornalista, foi ainda no período do colonialismo inglês, no século 18, que começou o modelo que ele chama de “excepcionalismo”.

Esse processo antecede outros marcos históricos que culminaram com a fragilidade recente da economia mundial. Isso inclui o acordo de Bretton Woods, que, em 1944, na esteira do fim da Segunda Guerra Mundial, definiu o modelo de gerenciamento das relações comerciais e financeiras entre os países; e também a globalização, que ganhou força a partir do início dos anos 1990 com o fim da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim.

“É esse processo hegemônico que domina o planeta pelo menos nos últimos 350 anos. Esse sistema de excepcionalismo está no fundo da crise atual em que vivemos. O mundo não suporta mais o sistema de hegemonia colonial”, salientou o jornalista, que é editor-presidente da Capax Dei Editora e um dos fundadores do Movimento de Solidariedade Ibero-americana.

Luta sindical

Ao falar sobre os reflexos do modelo atual de especulação financeira e rentismo existente no mundo, o jornalista mexicano lembrou que as maiores vítimas são os próprios trabalhadores. Para ele, embora a tecnologia e a globalização tenham proporcionado um grande aumento de produtividade nos últimos 20 anos, não houve uma contrapartida em melhorias de direitos trabalhistas.

“Nunca tivemos um avanço de produtividade tão grande e [ao mesmo tempo] nunca vimos crescer tanto a desigualdade”, afirmou. “Se continuarmos na lógica da globalização, todo o aumento de produtividade vai para o rentismo e para a especulação, e vamos ter cada vez mais uma economia de descarte”, disse Carrasco.

A mudança desse cenário, na visão do jornalista, passa sem dúvida pelo fortalecimento do movimento sindical. No caso específico do Brasil, ele citou a importância de que as entidades de defesa dos trabalhadores sigam em sua luta de questionamento do sistema da dívida pública, que é responsável por redirecionar para o sistema financeiro boa parte do capital que poderia ser investido em melhores sociais para a população.

“O movimento sindical tem um trabalho fundamental. Ao mesmo tempo de ter uma política de defesa dos direitos, precisa haver um questionamento do sistema da dívida. Está claro, o sistema quebrou. Qualquer ajuste que se queira fazer é só um remendo para algo que vai fracassar”, analisou Carrasco.

O jornalista também destacou a importância do trabalho da CSB nesta luta. “O futuro do sindicalismo passa pela Central dos Sindicatos Brasileiros”, completou.

Realidade europeia

_mg_0250No mesmo painel que debateu a “Conjuntura internacional e os desafios para o movimento laboral”, o advogado trabalhista Gáudio Ribeiro de Paula fez um panorama da realidade trabalhista e do sindicalismo na Europa. O profissional falou sobre a importância do Direito Comparado, que aborda as diversidades e semelhanças entre o direito de diferentes países.

De acordo Gáudio, o movimento sindical europeu enfrenta atualmente um grande desafio. Os dados apresentados por ele mostraram que, embora alguns países do continente tenham registrado recuo nas taxas de trabalhadores sindicalizados nos últimos anos, há experiências de sucesso, como é o caso de Suécia, Noruega e Finlândia.

Na Suécia, onde a taxa de sindicalização chega a 67%, o desempenho é resultado de uma atuação eficiente na conciliação de conflitos e na colaboração entre entidades sindicais e trabalhadores. “O sucesso das entidades sindicais nórdicas está no equilíbrio entre conflituosidade e operação”, explicou Gáudio, que é professor de Direito Processual do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB).

Mobilização na crise

_mg_0265No caso específico do Brasil, o advogado também destacou o papel importante que o movimento sindical ainda tem para desempenhar, sobretudo no momento de crise enfrentado pelo País.

“Um dos caminhos para desatar nós passa necessariamente pela atuação dos movimentos sindicais. No epicentro da crise, que é quando as preocupações econômicas se fazem sentir com maior ênfase nas relações de trabalho, os sindicatos podem efetivamente atuar nesse equilíbrio entre conflito e colaboração. Os sindicatos podem oferecer soluções criativas”, completou Gáudio.

Fonte: CSB

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